Diretoria de Assuntos Parlamentares conduz batalha contra os retrocessos da PEC 32

Tão logo chegou ao Congresso Nacional, levada pelas mãos do ministro da Economia, Paulo Guedes, em setembro de 2020, a Proposta de Emenda à Constituição 32, conhecida como Reforma Administrativa, transformou-se em uma das principais preocupações do Sindifisco Nacional. Sobretudo da Diretoria de Assuntos Parlamentares, que nestes últimos meses destinou parte do seu trabalho para as medidas que visam à derrubada da proposta.

Estruturada em um leque de medidas que, caso aprovadas, trarão grande insegurança jurídica para o serviço público no país, a proposta tem sido alvo de intensas manifestações de servidores públicos, entre eles os Auditores-Fiscais. Mobilizados por meio do Sindifisco, representantes da classe têm feito manifestações em aeroportos e também em frente ao Anexo II da Câmara dos Deputados. A presença corpo-a-corpo junto aos parlamentares fortalece a classe, uma vez que permite aos Auditores potencializarem os contatos com os deputados de suas bases.

“Os Auditores aproveitaram a ocasião para fazer esse trabalho. Muitos conseguiram fazer contato com os parlamentares de suas bases”, afirma o diretor de Assuntos Parlamentares, Marcos Assunção.

Apesar de a proposta ainda não ter sido derrubada no plenário da Câmara, as manifestações têm surtido efeito. A PEC, que já foi aprovada na Comissão Especial e na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, ainda não tem prazo para ser apreciada em plenário. Para que passe a valer, contudo, a proposta ainda precisa ser aprovada em dois turnos no plenário da Câmara, onde precisa de 308 votos dos 513 deputados, e depois no Senado. Lá são necessários os votos de 49 dos 81 senadores, antes de ser promulgada.

Após a aprovação do relatório na Comissão Especial, em 24 de setembro, a mobilização dos servidores públicos contra a PEC 32 cresceu exponencialmente, com manifestações em diversas capitais do país e incremento de campanhas na mídia e nas plataformas digitais. Marcos Assunção ressalta a importância de reforçar a mobilização contra a proposta, que atinge inclusive as carreiras típicas de Estado, ao permitir a perda de garantias quanto à possível demissão por insuficiência de desempenho e a possibilidade de redução salarial.

“Essas manifestações têm sido realizadas no sentido de pressionar os parlamentares em torno dos grandes prejuízos que essa Reforma Administrativa pode trazer para o Estado brasileiro. Por isso, o conjunto de entidades tem firmado posição, na Câmara e no Aeroporto, para que essa pressão surta efeito”, diz ele, acrescentando que o Sindifisco Nacional continuará atuando em conexão com o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) e com as demais entidades que representam os servidores públicos.

Mobilizados pela Diretoria de Assuntos Parlamentares, os Auditores-Fiscais também foram orientados a fazer contato com os parlamentares de suas localidades para agendamento de reuniões e também para convidá-los às manifestações em apoio aos servidores. O sétimo substitutivo do relator, deputado Arthur Maia (DEM-BA), trouxe um extenso rol de retrocessos ao serviço público. Profundamente alterado, o parecer incorporou prejuízos às carreiras típicas de Estado, que já haviam negociado mudanças no texto do parlamentar.

O texto aprovado na Comissão Especial aprofunda a terceirização do serviço público em áreas estratégicas, como saúde e educação. Além disso, a proteção aos cargos típicos de Estado foi fragilizada, com o fim da garantia de ampla defesa e do contraditório durante a avaliação de desempenho. Também está prevista a possibilidade de redução de jornada e salário para todos os servidores. Inúmeros pontos do relatório da PEC 32 são extremamente graves.

O parecer aprovado permite a redução transitória de jornada de trabalho em até 25%, com correspondente redução da remuneração. O texto aprovado no colegiado ainda prevê a perda de cargo se o posto for extinto por ter se tornado desnecessário ou obsoleto. O servidor teria direito a indenização de um mês de salário por cada ano de serviço.

Outro grave dispositivo retomado no texto aprovado na comissão especial foi o artigo 37-A, que desde o início das discussões foi considerado inaceitável pelo Sindifisco Nacional e que tinha sido retirado na versão anterior do relatório. O dispositivo prevê que União, estados e municípios possam, “na forma da lei, firmar instrumentos de cooperação com órgãos e entidades, públicos e privados, para a execução de serviços públicos, inclusive com o compartilhamento de estrutura física e a utilização de recursos humanos de particulares, com ou sem contrapartida financeira”.

Como não bastassem as fragilidades apontadas, a proposta defendida pelo governo não engloba os chamados membros do Poder, como parlamentares, juízes, desembargadores, ministros de tribunais superiores, promotores e procuradores. As mudanças do texto governista também poupam os militares.

“Não à PEC 32”

A pressão das entidades em busca de alterações no texto ganhou no início do ano, um reforço expressivo, com o lançamento da plataforma www.naoapec32.com.br, que, entre outras informações, traz um medidor, o Reformômetro, apontando como se posiciona cada um dos deputados federais e senadores em relação à matéria, além de dispor de links para as redes sociais de todos os parlamentares.

A iniciativa, que resultou na mobilização de diversos setores em torno do “Não à PEC 32”, contou com a liderança do Sindifisco Nacional, que, desde o primeiro momento, esteve à frente da elaboração e da divulgação dessa plataforma. Em tempos de pandemia, considerando a dificuldade de contato presencial com os parlamentares, a plataforma passou a ser vista como um referencial entre as várias frentes que se opunham à proposta.

Como durante muito tempo foi impossível exercer pressão junto aos parlamentares em seus gabinetes e nos corredores do Câmara dos Deputados, o site www.naoapec32.com.br foi a alternativa que permitiu às entidades e à sociedade organizada manifestar contrariedade à PEC 32, a partir do envio de mensagens para os parlamentares via e-mail e redes sociais, a partir das informações compiladas na plataforma.