
Era uma questão de tempo. As conexões por vídeo em substituição aos encontros presenciais eram uma tendência mundial, que, cedo ou tarde, estariam consolidadas. O que a pandemia fez foi apenas acelerar o processo, pegando os despreparados de surpresa. Felizmente, não foi o caso do Sindifisco Nacional.
Ao aprovar, no dia 25 de setembro de 2019, a realização das assembleias telepresenciais, os filiados do Sindifisco Nacional ocuparam seu lugar de vanguarda na história. Na eclosão da pandemia, alguns meses depois, assistiram, pelo retrovisor, àqueles que tentavam, aos trancos e barrancos, se adaptar. Ou seja, a maioria esmagadora das organizações públicas e privadas, dentro e fora do Brasil.
Quando o mundo ouviu falar em “Zoom” pela primeira vez, o sistema se encontrava em pleno funcionamento no Sindifisco Nacional. As ações eram discutidas por vídeo e implementadas após votação virtual, com auxílio de uma plataforma exclusiva, somada ao Zoom no pacote de soluções implementado pelo Sindifisco Nacional.
Obviamente, em 2019, ninguém poderia prever a pandemia. A intenção da Direção Nacional era ampliar a participação democrática. Naquele ano, 3.300 filiados residiam em 1.200 cidades onde não havia Delegacia Sindical ou representação do Sindifisco Nacional. Além da distância, a Direção Nacional se preocupava com Auditores-Fiscais que, mesmo situados próximos às DS, tinham dificuldade de deslocamento, por causa do trânsito, limitações físicas ou outros motivos.
Na paralisação de 2016, dos 9 mil ativos, somente 1.037 filiados votaram. É claro que, apesar do baixo quórum, a decisão da classe foi legítima e, certamente, refletiu a vontade da maioria. Mas muitos que quiseram votar para deixar registrado seu anseio não tiveram essa oportunidade. Em se tratando de um instrumento de pressão, números assim enfraquecem o movimento.
Antes da pandemia, a ideia era oferecer os dois formatos de participação nas assembleias: presencial e telepresencial. Pela regulamentação aprovada pelo Conselho de Delegados Sindicais, em 27 de novembro de 2019, as DS que optassem por acrescentar a nova modalidade já em 2020 tinham até 31 de dezembro para fazer a adesão, no Portal de Serviços. A partir de então, o prazo para adesões, com foco no ano seguinte, seria sempre 30 de setembro.
Essa previsão era necessária para que o Departamento de Tecnologia disponibilizasse a infraestrutura sob medida para o número exato de DS interessadas. Era preciso, ainda, programar a logística de treinamento aos responsáveis por operar os sistemas e aplicativos em cada Delegacia Sindical.
Feita a adesão pela DS, bastava que cada um de seus filiados tivesse acesso à internet e um computador ou smartphone. No momento da assembleia, o participante informaria, por meio do sistema em suas mãos, se se encontrava fisicamente no local ou se estava à distância.
Encerrado o prazo para a adesão, 58 Delegacias Sindicais (cerca de 70% do total) optaram pela realização das assembleias telepresenciais. A etapa seguinte foi a implementação das ferramentas. O custo estimado à época, de três centavos de real por dia por filiado, era uma verdadeira bagatela perante os ganhos democráticos institucionais. Mas, quando este processo já estava em curso, veio a pandemia.
A DS/Taubaté, que, inicialmente, optou por não utilizar o sistema, reconsiderou sua decisão, em decorrência da disseminação da Covid-19. A Delegacia Sindical solicitou à Direção Nacional a reabertura do prazo para adesão. O pedido foi atendido e estendido a todas as DS que se encontravam na mesma situação.
O secretário-geral do Sindifisco Nacional, Paulo Roberto, que, na ocasião, ocupava o cargo de diretor-secretário, acolheu o pedido de reabertura do prazo, em consonância com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com esses órgãos, as reuniões deveriam ser realizadas virtualmente, e as viagens deveriam ser adiadas ou canceladas. Tais recomendações, no âmbito do Sindifisco Nacional, foram internalizadas na Portaria nº 1/2020 da Direção Nacional, assinada pelo presidente, Kleber Cabral.
“Diante desta conjuntura mundial, no sentido de não paralisar totalmente as atividades e de não deixar os presidentes das Delegacias Sindicais sem conexão com os filiados, nós estamos estendendo a disponibilização das ferramentas virtuais a todas as localidades”, informou à época Paulo Roberto. “Após o pedido da DS/Taubaté, nós nos sensibilizamos e estendemos a possibilidade às demais Delegacias Sindicais por acreditarmos que essa reinvindicação seja de caráter geral”, acrescentou o então diretor-secretário.
As adesões adicionais foram aceitas até 17 de abril. Inicialmente marcado para março, o treinamento para uso do sistema, que ocorreria de forma presencial, foi remarcado para o fim de abril e ocorreu em formato telepresencial. Enquanto isso, a pandemia, em vez de arrefecer, permaneceu assolando o mundo e, consequentemente, impedindo os encontros presenciais. A Direção Nacional, então, reabriu o prazo, uma vez mais, para as DS que ainda não haviam aderido.
Em 17 de junho, quando o prazo final se encerrou, a adesão era de 100% das Delegacias Sindicais. O formato telepresencial se estendeu a todas as atividades do Sindifisco Nacional, inclusive nas próprias DS. As reuniões do CDS, os webinares do Jurídico, os encontros de aposentados, enfim, tudo o que envolvia o Sindifisco Nacional teve continuidade, apesar da distância física e do isolamento social.
As tratativas com a administração da Receita Federal, com o Ministério da Economia, com as demais esferas do Executivo também migraram para o formato telepresencial. As sessões na Câmara e no Senado passaram a ser realizadas por vídeo, assim como o trabalho parlamentar do Sindifisco Nacional. Inevitavelmente, o que já fazia parte do cotidiano dos filiados foi adotado em escala global.
As reuniões telepresenciais, dentro e fora das atividades sindicais, tornaram-se um caminho sem volta. Quebraram paradigmas, a exemplo do teletrabalho e das demais experiências bem-sucedidas resultantes das restrições impostas pela crise sanitária mundial. Hoje, mesmo superado o período mais crítico da pandemia, o que se observa é uma nova cultura corporativa, que já não depende mais das condições de saúde da população. Com ou sem pandemia, os encontros virtuais são realidade, inclusive em confraternizações entre amigos e família.
Olhando em retrospectiva, Paulo Roberto avalia que a Direção Nacional cumpriu seu papel. A ideia inicial de ampliar a participação democrática se concretizou. A Direção Nacional teve visão. Em tempos de pandemia, sem a ferramenta, o Sindifisco Nacional sequer teria funcionado nesse período. Para o secretário-geral do Sindifisco, o mundo está passando por uma revolução nos processos de comunicação e integração das pessoas. Essas mudanças atropelam a realidade e as burocracias dos procedimentos. Ele avalia que, em breve, a entidade estará integrada ao metaverso.
“Em termos de calor humano, é impossível compararmos os formatos presencial e telepresencial. Quando estamos no mesmo ambiente, conseguimos absorver tudo o que a pessoa está transmitindo. No olho no olho, a comunicação tem elementos únicos. Mas precisamos entender que nem sempre isso é viável ou possível. E quando estamos nesta situação, precisamos seguir adiante. A vida não pode parar”, conclui Paulo Roberto.